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Notícia

Publicado: 17/12/2016 17:50h

Sua boa ideia não vale nada (e você não devia desanimar por isso)

Sua boa ideia não vale nada (e você não devia desanimar por isso)
Começou em 2010. A princípio era algo meio que irrelevante, que eu só percebia se prestasse atenção mesmo. Aqui ou ali algo me chamava atenção. Uma oportunidade. Algum vácuo a ser preenchido. Um serviço que faltava. Algo que podia fazer a diferença. Ainda eram ideias, viravam rascunhos, mas não eram possibilidades de negócios. Com o passar do tempo a cabeça passou a ferver, "como ninguém pensou nisso antes" passou a ser um questionamento comum. Logo passei a perceber que estava deixando de ganhar dinheiro e que aquelas ideias precisavam virar negócios. Estou certo que você, leitor, já deve ter tido esse sentimento antes.

Ok, eu tinha uma ideia (na verdade várias), boa, e acreditava que aquilo ali tinha tudo para dar certo. Precisava fazer aquilo virar dinheiro. E foi aí que descobri uma grande verdade desse universo de empreendedorismo e startups:

O piso do inferno não está pavimentado com boas intenções, está pavimentado com boas ideias.

Se você é um cara de destaque na sua área, bem relacionado e com os contatos certos — ou seja, uma parcela ínfima da população - sua ideia pode ter valor. Com as conexões certas ela pode sair do papel e dar certo. Ou errado. Mas, amigo, pode acontecer. Entretanto se você é apenas você e não esse cara mega conectado o cenário pode ser bem diferente. Não que seja impossível tirar uma ideia do papel, não é, mas, acredite, é muito, muito mais difícil.

De todas as dificuldades talvez as principais sejam mentoria (para lhe ajudar a suprir o gap de conhecimento que pode envolver o sucesso ou não do teu negócio) e, claro, a falta de investimento. O objetivo desse texto é focar no investimento, a questão da mentoria daria um texto só dela, voltamos a ela no futuro.

Como assim minha ideia não vale nada?

Calma, não é que ela não vale NADA, vou explicar melhor. Sua ideia é o intangível, para muitos investidores o capital é muito mais importante que ela (ou eles apenas vendem essa ideia para terem uma posição de negociação melhor). Na maior parte das vezes você nem será recebido para apresentar essa ideia se é apenas a ideia que tem para apresentar. Sem um plano de negócios, um protótipo ou um beta funcionando você irá receber uma centena de nãos antes de conseguir apresentar para um investidor ou para apresentar para uma aceleradora, independente do quanto ela, a ideia, for boa.

Algumas vezes conseguirá apresentar e, ingenuamente, poderá ter sua projeto roubado ou receber uma proposta para ficar com 20% do negócio enquanto o investidor ficará com os outros 80%. Sim, eu sei, 20% de algo é melhor que 100% de zero, mas não lhe incomoda saber que algumas aceleradoras oferecem até U$ 200.000,00 por 10% de seu negócio enquanto alguém pode querer 80% para aportar um valor semelhante? Acontece.

Usei meus contatos pra apresentar uma ideia para algumas pessoas que achei que podiam ajudar, de todas elas ouvi a mesma coisa: "Desenvolve, mesmo que de forma tosca, mostra que funciona, aí sim você vai conseguir a atenção do investidor. Depois que receber o investimento você refina o código ou reescreve tudo, mas não vai com ideia, ideia não tem exatamente valor".

Mas minha ideia é muito boa MESMO, ainda assim não vou conseguir investimento?

Algumas frases que ouvi nos últimos meses:

"Tenho aqui alguns investidores anjos, cada um com dois ou três milhões pra investir, o problema é que só aparecem aqui ideias que a princípio parecem muito boas mas muito mal desenvolvidas ou explicadas como negócios."

"Durante cerca de um ano tivemos a disposição algumas centenas de milhões para investirmos em startups, mesmo conversando com muita gente apenas uma foi apresentada como algo viável, onde estudaram o mercado, viram onde e como ganhariam dinheiro, analisaram os desafios e riscos, estabeleceram metas, cronograma pra atingir equilíbrio de contas e afins. 360 dias, dezenas de projetos, apenas UM parecia com um negócio de verdade."

"Recebo dezenas de ideias por e-mail todos os dias, ao entrar em contato com algumas dessas pessoas e perguntar quanto precisam as pergunto em quanto tempo terei meu dinheiro de volta, mesmo ciente dos riscos, a imensa maioria não faz ideia, mesmo enrolando — o que percebo — tentando fingir que sabem."

"A ideia não é ser bonzinho, não é fazer favor, é ajudar a construir algo de forma que todos ganhem, quem teve a ideia e a colocou pra funcionar e nós, que possibilitamos isso garantindo os fundos para que fosse possível chegar onde foi planejado. Precisamos ter um mínimo de segurança de que nossos futuros associados pensam dessa forma e que vão contribuir para o resultado."

Em resumo: a ideia tem seu valor quando acompanhada de uma visão de negócios que precisa ser embasada por um bom planejamento e por pessoas competentes envolvidas em seu desenvolvimento.

Desenvolvimento, processo e afins, na maioria das vezes, são commodities, ou seja, podem ser replicados com tempo e dinheiro.

E é justamente aqui onde a ideia passa a ter valor, assim como seu know-how sobre a atividade/área a qual deseja atuar. É onde o capital humano faz a diferença e onde pensar na frente - e sair na frente - pode fazer a diferença.

Pegue a ideia, decupe, refine, embase, pense nela como negócio. Quem é teu público? Que necessidade dele ela atende? Como vai crescer? Quanto vai crescer? Quanto vai custar? Quanto vai ganhar? Como vai ganhar? Qual o custo de setup? De desenvolvimento? De manutenção? Quais os desafios fiscais? Quem são teus concorrentes? Qual o melhor cenário? E o pior?

Ouça todos os nãos, mas não os aceite. Questione. Use os feedbacks em seu favor. Aproveite pra desenvolver mais e mais a proposta de negócio que nasceu com a sua ideia. Eu confesso que anotei todos os não, os talvez que sumiram no ar e mesmo os que simplesmente ignoraram o contato na expectativa de, ao ter sucesso, lembrá-los no futuro: "Poxa, lembra que te procurei para tocarmos isso juntos? Que pena que não rolou, né? Olha só…". Tá, não vou fazer, soaria infantil. Ou talvez eu faça.

Muitos grandes negócios ouviram dezenas de nãos até alguém acreditar e apostar neles, entre eles o Uber, AirBNB, Xerox e Snapchat. E não desistiram.

Mas, pra finalizar, não se apegue a essa ideia a ponto de ser intransigente. Aproveite todo contato que fizer, toda leitura, todo evento, toda possibilidade de falar com investidores ou pessoas que já empreenderam (tendo tido sucesso ou fracassado), para entender se o que tem na mão é um ganso (?) dos ovos de ouro de verdade. Não tenha receio de mudar, de adaptar ou mesmo de abandonar em prol de uma ideia melhor e mais viável que teve no caminho.

Lembre do que dizia JK: "claro que eu mudo de ideia, não tenho compromisso com o erro".

Fonte: Eden Wiedemann - Head de Planejamento e Novos Negócios na Cumbuca
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